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E o Trabalho, Rapha?
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E o Trabalho, Rapha?

a arte de lidar com perguntas invasivas

A minha tia costumava fazer umas festinhas para os amigos intelectuais dela. E, como todos eram cheios de opinião, sempre tinha aquele momento a flor da pele. Daí, o meu tio, que não era nada da tribo esquerda festiva - ele estava mais para pragmático que paga as contas -, soltava a frase salvadora: "Alguém quer uma aguinha?" O circo pegando fogo e a saída - eficaz - dele era mudar de assunto… oferecendo água?!   

Pois bem. “E o trabalho?” é a frase que mais escuto ultimamente. E, quando essa perguntinha acontece, sempre sinto como se estivessem me jogando no meio de umas daquelas reuniões passivo-agressivas da minha tia.

Desde que deixei o meu antigo trabalho, pessoas queridas, provavelmente bem intencionadas ou talvez apenas para jogar um pouco de conversa fora, chegam-me com esta pergunta.

Rapha, o que você vai fazer agora?” 

Detesto admitir, mas acho tão invasivo. Aqui (na Inglaterra, mas acho que no Reino Unido em geral) não é considerado muito educado já sair perguntando sobre trabalho (ao menos é o que os meus amigos ingleses dizem: “Isso é muito american way"

Ah, gente, eu adorei essa novidade sobre eles. A mentalidade é: “vamos marcar um café antes de você querer se meter na minha vida desse jeito, não?" (detalhes de um país com mais distribuição de renda talvez?)

Eu não sei dos americanos (e achei meio preconceituosa essa comparação), mas se este for o british way, parece perfeito para minha pessoa. 

Já sou do tipo que não se interessa muito pelo trabalho dos outros, então... funciona. No que me diz respeito, meu pensamento é: estou conversando com um adulto, ele sabe da vida dele. Pronto. 

A minha curiosidade vai sempre em direção aos medos, alegrias, livros e músicas preferidas, a perspectiva sempre única sobre a existência, a política etc. Isso me intriga demais.

Como você paga sua conta de luz? Não muito.

Fico bem feliz com explicações protocolares: “eu trabalho com tecnologia”. Tá ótimo! 

Eu sei que meus interesses sobre o outro muito provavelmente são até mais invasivos do que os de ordem financeira, mas, sendo otimista, também tenho consciência de que o meu tesão definitivamente não está no dinheiro alheio. 

Eu fico sem reação diante do inquérito despropositado e persistente. Isso me irrita muito sobre a minha pessoa.

Se você vier me oferecer um trabalho, um freela: bora conversar! Mas qual é a desse frisson impertinente? 

Veja, até com meus amigos é complicado. Tem sempre alguém que me pergunta:

- E a fulana: o que ela faz? 

- Ela faz freela, digo. 

- Freela de quê? 

- Tecnologia. 

- Tecnologia? 

- É. Não sei, você vai ter que perguntar para ela. 

- Mas como você não sabe?! Não são amigas? 

Enquanto isso, penso com meus botões: sei que ela tem medo de altura, que gosta de pizza havaiana, mas não conta para ninguém. Sei que já teve pensamentos suicidas, que ela ri toda vez com a figurinha do cachorrinho tomando Rivotril, mas dos freelas sei bem pouco. Sou uma amiga de merda?

Aff. Vai. É muito invasivo. E de uma pequeneza… 

E continuo sem entender. Obviamente não é de trabalho que se trata, mas de dinheiro. 

Quando dizia: trabalho no NHS. O interesse morria rapidamente. Talvez ouvisse um: mas qual o cargo? E pronto, a caixinha está dada. É assim que ela se paga. Aí, pode.

O que não pode é o mistério. Freela. Produtor de Conteúdo. Projetos. “Não, não, não, não.” “Tem alguém pagando essa conta? E eu preciso saber.”

Precisa? … (cont.)

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