Chico e o Carnaval dos Cansados
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Guerra declarada, e eu caí na besteira de entrar no Twitter para ver a reação dos brasileiros. "Por que, Raphaella? Por quê?"
Se o Instagram tem vocações narcisistas, o twitter é a grande Ágora dos toxiquitos do fim do mundo. E eu estava lá, como diria uma amiga: batendo palmas para o palhaço dançar. E naquele circo, para mim, o pior comentário (muito recorrente, devo dizer) foi o "estou cansado de viver momentos históricos."
Tirando o óbvio complexo de Maria Antonieta que aparentemente baixou nessas pessoas, existem outros motivos para minha fúria com essa sentença em particular. Eu não quero, no entanto, que este seja um texto sobre guerra, mas antes sobre cansaço… e sobre Carnaval.
Sim, venho aqui da minha ilha distante dar pitacos sobre essa festividade que faz parte vital da nossa identidade nacional. Às vezes, um pouco de distância ajuda - não apenas a geográfica, mas também a psicológica e social.
Eu sempre tive uma relação estranha com o Carnaval. Já o ignorei, já o amei, já precisei dele como quem precisa de ar. Por isso, posso dizer que abrir mão dele não é algo simples e viável como alguns parecem acreditar.
"Eles" (pode chamar de governantes, políticos etc. Eu gosto de chamar de alto clero para fazer piada quando não consigo mais chorar) disseram que o Carnaval não aconteceria nas ruas por conta do Covid, apenas nos salões privados. O resto só em Abril, inclusive o do Sambódromo que é outra história.
Essa moça tá diferente
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás
Essa moça tá decidida
A se supermodernizar
Ela só samba escondida
Que é pra ninguém reparar
Tolinhos. "Eles" ignoraram a força do Carnaval.
Carnaval é uma festa que te suga. É totalitária, nas palavras do Pondé. Carnaval é resistência primeva, engole o cansaço, o medo da morte, a guerra na Ucrânia, a raiva do Bolsonaro, a tragédia em Petrópolis. Tudo. Assusta, né?
E, como imaginei, temos Carnaval. Nas ruas do Rio, do Brasil, até aqui em Londres. Se tem Brasileiro, temos Carnaval! E no meio da roda-viva, até o cansaço, inclusive o histórico, virou combustível para os foliões.
Para irmos mais longe nessa reflexão, vale lembrar detalhes esquecidos…
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