Ansiedade Pré-Brasil

"Chega de viver o momento. Agora eu só quero mudar de fase!"

Depois de 11 meses e algumas semanas, vocês já sabem que sou uma pessoa ansiosa. Eu diria que a minha habilidade de escalonar está emoção é um pouco mais elevada que a média. 

Fecha comigo nessa versão, vai. 

Cada dia aprendo um pouco mais sobre isso. Oxalá, Psicanálise.

Agora, vocês imaginem o meu estado essas semanas antes de viajar para o Brasil. Depois de 3 anos, estou pirando em todos os abacaxis que tenho para resolver - os por minha conta e os por conta da morte da minha mãe. Plus, temos os amigos; plus, a família; plus, o checkup de saúde - que eu, como uma boa classe mérdia brasilis, insisto que preciso fazer no Brasil -; plus, aquele restaurante maravilhoso que quero levar o marido…

Ah, ainda tem essa. Apresentar o marido, que só sabe falar "chorume"; "pão de queijo"; "puta que pariu" e "eita" para a família e mostrar um pouco da minha dear hometown - a cidade purgatório da beleza e do caos. 

Vai ser quase um experimento antropológico. 

Detalhes a parte, faz uma semana que estou apegada na minha listinha de afazeres pré-viagem. Me paralizando em cada item. "Será que tento ir ao dentista lá?" "Como vou colocar todas as tralhas em um lugar só?" Por esse caminho vamos.

Vai dando uma ansiedade… Eu vou chorar separando os objetos da minha mãe? Ou quando reencontrar meu irmão? Não sei. Preciso realmente ir no dentista? E a papelada, e os quadros que amo tanto? Vou ter que dar um jeito de trazê-los! Mas como? Vou ter dinheiro suficiente? Falta de ar. Vocês vejam que cheguei num ponto que estou procrastinando a listinha adiantando o meu trabalho normal. Acreditam?

E eu sei - no fundo eu sei - que se não resolver "as pendências" nos meus 15 dias por lá, a listinha de 30 itens vai se transformar em uma de 90. Vai custar mais grana, então… melhor não.

Quando alguém me pergunta: "E aí? Animada com a viagem?" Eu, obviamente, faço a linha evoluída: "Claro! Vai ser ótimo! São muitos detalhes, mas estou dando um passo por vez, que é o que posso fazer."

Traduzindo: Respira. Respira. Qualquer coisa, faço uma fogueira com tudo, e venho embora!

Eu juro que me sinto assim. É tão cansativo. Mas agora já cheguei num ponto que…  simplesmente… desisti. Não é maravilhoso? 

Será que desisti? Não, estou tentando desistir. Já está ótimo.

Minha estratégia é sair eliminando tudo que é desnecessário. As coisas mais importantes para resolver são "as pendências" da minha vida financeira e burocrática, o resto, se precisar, simbolicamente "taco fogo". 

Primeira bobagem que não vou mais me angustiar (ah, como queria que isso fosse verdade) é essa necessidade de ir há médicos. Chega dessa palhaçada! (repito para minha pessoa). Isso não está me fazendo bem, gente. 

Acreditem se quiser, Londres tem médicos bons, o NHS tem suas limitações, mas é um sistema público e de qualidade. No mais, se for para gastar dinheiro com médico privado faço aqui… pela minha sanidade. 

Depois, o próximo item a ser descartado, são os eventos sociais. Eu tenho os melhores amigos do mundo - sei que todos acham isso, mas os meus são de fato especiais (risos). tenho consciência de que eles nunca que iriam se incomodar de não poder vê-los. Na minha cabeça, contudo, é uma ofensa mortal não encontrá-los depois de 3 anos.

E não é?

É o que provavelmente vai acontecer com alguém no entanto. Logo - tentando ser mais pragmática que passional - conclui que são poucos dias para muitos desejos. A gente encaixa tudo bonitinho na agenda (já falei disso aqui, não?), mas sabendo da minha humanidade… eu vou me distrair. Vou me frustar. Então já estou lidando com este momento dolorido a partir de agora.

Daí, temos aquela culpa que só donos de pets - e que não tem filhos "may I say" - irão entender. Vocês aí não precisam. Só compartilhando para lidar com ansiedade (risos nervosos).

Pois é, por último, temos a culpa de deixar os gatos por 15 dias (bagulho doido esse de se apegar aos gatinos). Eu estou numa dor dessa separação. Tem uma pessoa ótima que vai ficar aqui com eles, mas não consigo evitar, estou só dor. Agarrando o coitado do Austen, beijando a Jane. Uma verdadeira opereta!

Viver o momento é importante, voltar para a terra mãe é bom, fazer o luto dos que foram nem se fala, mas estou querendo mesmo é passar logo dessa fase logo. 

Chega de ansiedade pré-viagem.